Forno de cal

Restos de um forno de cal na Sierra de Tramontana (Maiorca).
Forno de cal tradicional do Sri Lanka
Restos de de um forno de cal em Almocita (Almeria).
Forno de cal em Grazalema.
Moderno forno de cal rotativo com pré-aquecimento (Wyoming, 2010).

Forno de cal (ou forno da cal ou caleiro)[1] são fornaças destinadas à produção de cal viva (óxido de cálcio) pela decomposição térmica de calcário por calcinação. As estruturas mais antigas, particularmente na região mediterrânica da Europa e do Norte de África,[2][3] utilizavam lenha como combustível, sendo progressivamente substituídos nas regiões mais industrializadas por fornos alimentados a carvão mineral.[4][5] Estes fornos estiveram em produção no sul da Europa até meados do século XX,[6] sendo substituídos pela produção industrial de cal em fornos rotativos.[7]

Descrição

A cal viva reage violentamente, gerando grande quantidade de calor, quando em contacto com água, o que dificultava o seu transporte por navio, e mesmo por terra, dado o risco de se molhar acidentalmente. Sendo um material essencial para a construção, a solução foi importar pedra calcária, que é quimicamente estável, e fazer localmente a calcinação, recorrendo a estes fornos alimentados a lenha.

Durante a calcinação ocorre a seguinte reação química:

CaCO3 + calor → CaO + CO2

O calcário era colocado em camadas alternadas com grande quantidade de lenha, sendo o topo do forno aberto para evitar a formação de vapor que estragaria a cal viva. A pira assim construída era deixada arder durante cerca de 6-7 dias, sendo as camadas de cal viva produzidas cuidadosamente retiradas após arrefecimento. A calcinação ocorria a temperaturas entre 900 °C (em que a pressão parcial de CO2 é de 1 atmosfera) e 1000 °C (em que a pressão parcial de CO2 é 3,8 atmosferas), sendo preferidas as temperaturas mais altas pois a reação produzia-se com maior rapidez.[8][9] A temperatura excessiva era cuidadosamente evitada porque produz cal não reativa, designada pelos caleiros como "cal queimada".

A cal produzida era hidratada, geralmente no local de uso final, pela junção de água:

CaO (s) + H2(l) → Ca(OH)2 (aq) + calor

A solução aquosa produzida era utilizada na preparação de argamassas mas, sobretudo para caiar paredes. O processo da caiação, realizado por profissionais designados por caiadores, utilizava fórmulas de preparação da cal que eram em muitos casos guardadas como segredo dos mestres.

As fórmulas mais conhecidas consistiam em juntar lentamente a água, deixando-a ferver, adicionando depois sebo ou sabão azul e branco. Para caiação era frequente a adição de anil, que servia para branquear a cal, por vezes dando-lhe um tom ligeiramente azulado quando fresca.

Galeria

  • Fornos de cal de Portugal e Brasil
  • Fornos de Cal em Oeiras, Portugal
    Fornos de Cal em Oeiras, Portugal
  • Fornos de cal em Penacova, Portugal.
    Fornos de cal em Penacova, Portugal.
  • Forno de cal em Farias Brito, Ceará, Brasil.
    Forno de cal em Farias Brito, Ceará, Brasil.
  • Forno de cal em Vera Cruz, Bahia, Brasil.
    Forno de cal em Vera Cruz, Bahia, Brasil.
  • Fornos de cal do Reino Unido
  • 19th century limekilns at Froghall
    Fornos de cal em Froghall.
  • A preserved lime kiln in Burgess Park, London
    Forno de cal em Burgess Park, Londres.
  • Old lime kiln, Boscastle, Cornwall
    Forno de cal em Boscastle, Cornwall.
  • A large limekiln at Broadstone, Beith, Ayrshire.
    Forno de cal em Broadstone, Beith, Ayrshire.
  • The Annery kiln in Devon, England.
    O Annery kiln em Devon, England.
  • Large 19th-century single limekiln at Crindledykes near Housesteads Northumbria
    Large 19th-century single limekiln at Crindledykes near Housesteads Northumbria.
  • Dumbarton castle in 1800 and functioning lime kiln with smoke in the foreground.
    Dumbarton castle in 1800 and functioning lime kiln with smoke in the foreground.[10]
  • Fornos de cal da Austrália
  • Limestone kiln ruin at Walkerville, Victoria, Australia
    Fornos de cal em Walkerville, Victoria, Australia
  • Limestone kiln ruin as seen from bushwalking track, Walkerville, Victoria, Australia
    Fornos de cal em Walkerville, Victoria, Australia
  • Fornos de cal em Wool Bay, South Australia
    Fornos de cal em Wool Bay, South Australia
  • Fornos de cal da Ucrânia
  • Fornos de cal em Manzhykiv Kut, Ucrânia
    Fornos de cal em Manzhykiv Kut, Ucrânia
  • Fornos de cal em Manzhykiv Kut, Ucrânia
    Fornos de cal em Manzhykiv Kut, Ucrânia
  • Fornos de cal em Manzhykiv Kut, Ucrânia
    Fornos de cal em Manzhykiv Kut, Ucrânia
  • Fornos de cal em Manzhykiv Kut, Ucrânia
    Fornos de cal em Manzhykiv Kut, Ucrânia
  • Fornos de cal de outras regiões
  • Fornos de cal em Antoing, Bélgica
    Fornos de cal em Antoing, Bélgica
  • Forno de cal em operação em Kadur, Índia
    Forno de cal em operação em Kadur, Índia
  • Fornos de cal em Untermarchtal, Baden-Württemberg
    Fornos de cal em Untermarchtal, Baden-Württemberg
  • Fornos de cal em Simplon, Namíbia
    Fornos de cal em Simplon, Namíbia

Notas

  1. Diccionario de la lengua española «Calero» Consultado el 5 de octubre de 2015
  2. «Ruta Construyendo y blanqueando, caminos de cal, en Andalucía y Marruecos. Ruta elaborada por el Instituto Andaluz del Patrimonio Histórico». Cópia arquivada em 24 de setembro de 2015 
  3. Parque etnológico de Caimari
  4. Ramón López García. «Cal viva». ArqHys. Consultado em 7 de outubro de 2010 
  5. Caro Bellido, Antonio (2008). Diccionario de términos cerámicos y de alfarería. Cádiz: Agrija Ediciones. p. 61. ISBN 84-96191-07-9 
  6. Puche Riart, Octavio and Mazadiego Martínez, Luis Felipe and Jordá Bordehore, Luis and Carvajal García, D. (2005) Los últimos hornos morunos para yeso de Ciempozuelos, Madrid. In: 2º Simposio sobre la Minería y metalurgía históricas en el sudoeste europeo , 23-27 de junio de 2004, Madrid.
  7. Margalha G., Appleton J., Carvalho F., Veiga M. R., Santos Silva A., Brito J., «Traditional lime kilns - Industry or archaeology?» in HMC08 – 1st Historical MortarsConference 2008: Characterization, Diagnosis, Conservation, Repair and Compatibility. Lisboa, LNEC, 24-26 de Setembro de 2008. ISBN 978-972-49-2156-3.
  8. CRC Handbook of Chemistry and Physics, 54th Ed, p F-76.
  9. Parkes, G.D. and Mellor, J.W. (1939). Mellor's Modern Inorganic Chemistry London: Longmans, Green and Co.
  10. Stoddart, John (1800), Remarks on Local Scenery and Manners in Scotland. Pub. Wiliam Miller, London. Facing p. 212.

Ver também

Ligações externas

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Forno de cal
  • An authoritative discussion of lime and its uses (US context)
  • Lime Kilns at Newport Pembrokeshire West Wales
  • Muspratt's mid-19th century technical description of lime-burning and cement
  • The Lime Physical-Chemical Process
  • Lime Kiln Digital Collection at Sonoma State University Library
  • Wainmans Double Arched Lime Kiln – Made Grade II Listed Building
Controle de autoridade
  • Wd: Q59772
  • AAT: 300006404
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