Potenciostato

O potenciostato (figura 1) é um instrumento capaz de aplicar um potencial e medir a corrente resultante em um sistema eletroquímico. É um aperfeiçoamento de uma fonte de alimentação, utilizado principalmente em pesquisa científica para o estudo de reações eletroquímicas. Ao realizar este controle, o potenciostato atua como uma força motriz de reações eletroquímicas, ou seja, com um equipamento destes é possível controlar, através do potencial elétrico, estas reações. Algumas áreas de pesquisa contempladas incluem: eletroquímica, corrosão, baterias, células a combustível, eletroanalítica e sensores. Hoje em dia, praticamente todos os potenciostatos têm um outro modo de operação, chamado galvanostato. Nesse modo, invés do controle do potencial, o equipamento controla a corrente que passa pela célula eletroquímica e mede a diferença de potencial entre eletrodos.

Figura 1: Fotografia de um Potenciostato/Galvanostato comercial.

História

O termo potenciostato foi introduzindo por A. Hickling em 1942 quando desenvolveu o primeiro circuito elétrico para controlar a diferença de potencial da, também desenvolvida por ele, célula eletroquímica de três eletrodos[1]. Desde então, os potenciostatos se tornaram a base da eletroquímica e várias técnicas foram desenvolvidas em torno destes equipamentos com o passar dos anos. Apesar de o conceito permanecer o mesmo, os circuitos dos potenciostatos foram modificados com o tempo, principalmente após popularização dos amplificadores operacionais transistorizados, na década de 1960. Em 1968, a companhia americana Princeton Applied Resarch lançou o primeiro potenciostato comercial, o M170[2].

Funcionamento

Em um sistema eletroquímico, as reações ocorrem entre pelo menos dois eletrodos, onde um deles é doador de elétrons, e outro, por sua vez, o receptor. Contudo, em um sistema de apenas dois eletrodos não seria possível determinar qual deles seria o responsável pelos resultados observados em experimentos de potencial / corrente. Portanto, para fins de pesquisa científica, é utilizada uma célula eletroquímica de três eletrodos (ver Figura 2).

Figura 2: Célula eletroquímica de três eletrodos.

Célula eletroquímica de 3 eletrodos conectada a um potenciostato, com definição dos termos

O potenciostato controla o potencial do eletrodo de interesse do estudo, chamado de eletrodo de trabalho, em relação a um eletrodo de referência. Para que o potencial do eletrodo de referência permaneça em um valor conhecido, é necessário evitar ao máximo a passagem de corrente por este eletrodo. Isso é alcançado pela conexão do eletrodo de referência a um eletrômetro de alta impedância. A aplicação do potencial, por sua vez, é realizada entre o eletrodo de trabalho e um eletrodo auxiliar, também conhecido como contra eletrodo. Portanto, o potencial que é programado e registrado é sempre aquele entre o eletrodo de trabalho e o eletrodo referência, e é chamado de potencial de polarização. Por outro lado, o potencial que é aplicado entre o eletrodo de trabalho e o contra eletrodo é chamado de potencial de compliância. Ele normalmente não aparece na programação nem nos resultados experimentais, mas é necessário para conduzir o sistema para além do equilíbrio. Pode ser maior, igual, ou menor que o potencial de polarização, dependendo das condições, tamanho e cinética dos eletrodos, além da condutividade do eletrólito. De maneira geral, baixa condutividade do eletrólito, área pequena e/ou baixa atividade do contra eletrodo levam a um maior potencial de compliância, exigindo um potenciostato mais sofisticado.

O princípio de funcionamento eletrônico do Potenciostato é baseado num componente eletrônico muito conhecido chamado amplificador operacional ou OpAmp. Um amplificador operacional típico possui duas entradas e uma saída, onde o valor de potencial elétrico na saída é igual à diferença de potencial das suas entradas multiplicado pelo ganho de malha aberta do OpAmp que é muito grande, em geral maior que 10 6 {\displaystyle 10^{6}} vezes (figura 4). O valor de potencial que se deseja aplicar à célula eletroquímica deve ser aplicado à entrada não inversora ( V + {\displaystyle V_{+}} ) do OpAmp. Desta forma, se o potencial elétrico da célula eletroquímica, medido entre a referência e o eletrodo de trabalho e ligado à entrada inversora do OpAmp ( V {\displaystyle V_{-}} ), for diferente do potencial desejado, esta diferença será bastante amplificada e será aplicada ao contra eletrodo, que está ligado à saída V 0 {\displaystyle V_{0}} do Amplificador Operacional. Esta grande diferença de potencial entre o eletrodo de trabalho e o contra eletrodo irá provocar uma corrente elétrica e de íons entre eles, alterando a diferença de potencial entre o eletrodo de trabalho e referência até que esta fique igual à programada.

Figura 4: Esquema eletrônico simplificado de um potenciostato.

Como a saída V 0 {\displaystyle V_{0}} do Amplificador Operacional é a seguinte:

V 0 = A ( V + V ) {\displaystyle V_{0}=A*(V_{+}-V_{-})}

onde A é o ganho do amplificador.

Como V 0 {\displaystyle V_{0}} está ligado ao contra eletrodo ( V C E {\displaystyle V_{CE}} ), V + {\displaystyle V_{+}} é o potencial que se deseja aplicar ( V a p l i c a d o {\displaystyle V_{aplicado}} ) e V {\displaystyle V_{-}} é o potencial entre a referência e o eletrodo de trabalho ( V R e f / E T {\displaystyle V_{Ref/ET}} ) temos:

V C E = A ( V a p l i c a d o V R e f / E T ) {\displaystyle V_{CE}=A*(V_{aplicado}-V_{Ref/ET})}

ou

V a p l i c a d o V R e f / E T = V C E A {\displaystyle V_{aplicado}-V_{Ref/ET}={\frac {V_{CE}}{A}}}

Como A é muito grande, V C E {\displaystyle V_{CE}} / A é aproximadamente zero, temos:

V a p l i c a d o V R e f / E T 0 {\displaystyle V_{aplicado}-V_{Ref/ET}\quad \approx 0}

ou

V a p l i c a d o V R e f / E T {\displaystyle V_{aplicado}\quad \approx V_{Ref/ET}}

Desta forma, o potenciostato consegue manter a diferença de potencial entre o eletrodo de trabalho e a referência igual à diferença de potencial programada. Potenciostatos modernos conseguem manter potenciais com precisão de décimos de milivolt e medir correntes de dezenas de femtoampère.

Técnicas eletroquímicas / eletroanalíticas

Além de manter potenciais em valores fixos, os potenciostatos modernos também oferecem a possibilidade de gerar rampas (variações lineares) ou pulsos de potencial. Na pesquisa eletroquímica, a técnica de potencial constante é chamada de Cronoamperometria, ao passo que técnicas de potencial variável são chamadas de Voltametria. Em todas elas, a corrente normalmente é medida em função do tempo e/ou do potencial. Dentre as técnicas de voltametria, a mais simples é a Voltametria Linear, que consiste de uma rampa de velocidade constante, estabelecida entre dois potenciais de interesse. Outras técnicas de voltametria incluem Voltametria Cíclica, de Pulso, de Pulso Diferencial e de Onda Quadrada[3]. No campo da corrosão, a Voltametria é mais comumente chamada de Polarização. No modo galvanostático, a técnica mais emprega é a Cronopotenciometria, onde uma corrente constante é aplicada e o potencial versus eletrodo de referência é medido em função do tempo.

Há ainda uma técnica de corrente alternada, chamada de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica.

Ver também

Referências

  1. Hickling, A. (1 de janeiro de 1942). «Studies in electrode polarisation. Part IV.—The automatic control of the potential of a working electrode». Transactions of the Faraday Society (em inglês). 38 (0): 27–33. ISSN 0014-7672. doi:10.1039/TF9423800027 
  2. «Princeton Applied Research | Potentiostat | Electrochemical Instruments». www.ameteksi.com (em inglês). Consultado em 23 de junho de 2020 
  3. https://www.ameteksi.com/-/media/ameteksi/download_links/documentations/library/princetonappliedresearch/application_note_e-4.pdf?la=en

Ligações externas

  • Omnimetra Instrumentos - Fabricante brasileiro de Potenciostatos/Galvanostatos.
  • LabSolutions - Soluções Inovadoras para Pesquisa - Especialistas em Eletroquímica
  • Microquimica Equipamentos Ltda
  • Portal o Químico - contextualizando a química
  • Metrohm Pensalab
  • Ivium Technologies - compacto, portátil, de bancada... excelente para estudos de corrosão!
  • Ametek: Princeton Applied Research e Solartron Analytical, excelência em potenciostatos
  • PalmSens: potenciostatos portáteis de baixo custo