Teorema da decomposição de Helmholtz

No cálculo vetorial, o teorema de Helmholtz afirma que se o divergente e o rotacional de um campo vetorial são conhecidos em todo o espaço, então esse campo vetorial existe e é único, contanto que tanto o campo quanto seu divergente e rotacional caiam a zero suficientemente rápido no infinito. O teorema tem aplicações em muitas áreas da física e da matemática, como eletromagnetismo, cromodinâmica quântica e teoria de análise vetorial. Seu nome é dado em homenagem a Hermann von Helmholtz, médico e físico alemão com relevantes contribuições para a física, fisiologia, psicologia e filosofia.[1]

Enunciado

Seja um campo vetorial F ( r ) {\displaystyle \mathbf {F} (\mathbf {r} )} e definamos × F C ( r ) {\displaystyle \nabla \times \mathbf {F} \equiv \mathbf {C} (\mathbf {r} )} e F D ( r ) {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {F} \equiv D(\mathbf {r} )} .

Se as seguintes condições são satisfeitas:


  
    
      
        
          (
          1
          )
        
        
          lim
          
            r
            
            
          
        
        
          
            
              
                C
              
              (
              
                r
              
              )
            
            
              1
              
                /
              
              
                r
                
                  2
                
              
            
          
        
        =
        
          0
        
      
    
    {\displaystyle \left(1\right)\lim _{r\to \infty }{\frac {\mathbf {C} (\mathbf {r} )}{1/r^{2}}}=\mathbf {0} }
  
 e 
  
    
      
        
          lim
          
            r
            
            
          
        
        
          
            
              D
              (
              
                r
              
              )
            
            
              1
              
                /
              
              
                r
                
                  2
                
              
            
          
        
        =
        0
        ,
      
    
    {\displaystyle \lim _{r\to \infty }{\frac {D(\mathbf {r} )}{1/r^{2}}}=0,}
  


  
    
      
        
          (
          2
          )
        
        
          lim
          
            r
            
            
          
        
        
          
            
              
                F
              
              (
              
                r
              
              )
            
            
              1
              
                /
              
              r
            
          
        
        =
        
          0
        
        ,
      
    
    {\displaystyle \left(2\right)\lim _{r\to \infty }{\frac {\mathbf {F} (\mathbf {r} )}{1/r}}=\mathbf {0} ,}
  

então F ( r ) {\displaystyle \mathbf {F} (\mathbf {r} )} existe e é definido unicamente por


  
    
      
        
          (
          3
          )
        
        
          F
        
        (
        
          r
        
        )
        =
        
        
        U
        (
        
          r
        
        )
        +
        
        ×
        
          W
        
        ,
      
    
    {\displaystyle \left(3\right)\mathbf {F} (\mathbf {r} )=-\nabla U(\mathbf {r} )+\nabla \times \mathbf {W} ,}
  

com


  
    
      
        
          (
          4
          )
        
        U
        (
        
          r
        
        )
        =
        
          (
          
            
              
                1
                
                  4
                  π
                
              
            
            
            
              
                
                  D
                  (
                  
                    
                      r
                      
                    
                  
                  )
                
                
                  
                    |
                  
                  
                    r
                  
                  
                  
                    
                      r
                      
                    
                  
                  
                    |
                  
                
              
            
            
              d
            
            
              τ
              
            
          
          )
        
         
         
      
    
    {\displaystyle \left(4\right)U(\mathbf {r} )=\left({\frac {1}{4\pi }}\int {\frac {D(\mathbf {r'} )}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}{d}\tau '\right)\ \ }
  
  e 
  
    
      
         
         
        
          W
        
        (
        
          r
        
        )
        =
        
          (
          
            
              
                1
                
                  4
                  π
                
              
            
            
            
              
                
                  
                    C
                  
                  (
                  
                    
                      r
                      
                    
                  
                  )
                
                
                  
                    |
                  
                  
                    r
                  
                  
                  
                    
                      r
                      
                    
                  
                  
                    |
                  
                
              
            
            
              d
            
            
              τ
              
            
          
          )
        
        ,
      
    
    {\displaystyle \ \ \mathbf {W} (\mathbf {r} )=\left({\frac {1}{4\pi }}\int {\frac {\mathbf {C} (\mathbf {r'} )}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}{d}\tau '\right),}
  

onde d τ {\displaystyle {d}\tau '} é um elemento infinitesimal de volume e r {\displaystyle \mathbf {r} } e r {\displaystyle \mathbf {r'} } são vetores genéricos no espaço tridimensional.

Demonstração

Sejam U ( r ) {\displaystyle U(\mathbf {r} )} , W ( r ) {\displaystyle \mathbf {W} (\mathbf {r} )} , D ( r ) {\displaystyle D(\mathbf {r} )} e C ( r ) {\displaystyle \mathbf {C} (\mathbf {r} )} as funções definidas acima. Nosso primeiro objetivo é mostrar que é possível escrever F ( r ) = U ( r ) + × W {\displaystyle \mathbf {F} (\mathbf {r} )=-\nabla U(\mathbf {r} )+\nabla \times \mathbf {W} } , e que se escrito assim, de fato × F = C ( r ) {\displaystyle \nabla \times \mathbf {F} =\mathbf {C} (\mathbf {r} )} e F = D ( r ) {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {F} =D(\mathbf {r} )} . Em seguida, vamos mostrar que sob as condições ( 1 ) {\displaystyle \left(1\right)} e ( 2 ) {\displaystyle \left(2\right)} , F ( r ) {\displaystyle \mathbf {F} (\mathbf {r} )} é único para determinados D ( r ) {\displaystyle D(\mathbf {r} )} e C ( r ) {\displaystyle \mathbf {C} (\mathbf {r} )} .

Existência de U(r) e W(r)

A primeira questão é se U ( r ) {\displaystyle U(\mathbf {r} )} e W ( r ) {\displaystyle \mathbf {W} (\mathbf {r} )} são bem definidos, i.e., se as integrais de ( 4 ) {\displaystyle \left(4\right)} convergem. Temos, para r / r >> 1 {\displaystyle r'/r>>1} :

D ( r ) | r r | d τ D ( r ) r r 2 d r = D ( r ) r d r . {\displaystyle \int {\frac {D(\mathbf {r'} )}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}{d}\tau '\simeq \int {\frac {D(\mathbf {r'} )}{r'}}r'^{2}{d}r'=\int D(\mathbf {r'} )r'{d}r'.}

Essa integral converge se, e somente se, D ( r ) {\displaystyle D(\mathbf {r'} )} cair a zero no infinito mais rápido que 1 / r 2 {\displaystyle 1/r'^{2}} . Essa condição é garantida por ( 1 ) {\displaystyle \left(1\right)} . O mesmo argumento se aplica à integral de W ( r ) {\displaystyle \mathbf {W} (\mathbf {r} )} . Logo, U ( r ) {\displaystyle U(\mathbf {r} )} e W ( r ) {\displaystyle \mathbf {W} (\mathbf {r} )} existem.

Divergência de F(r)

Usando o fato de que o divergente de um rotacional é identicamente nulo[2], qualquer que seja a função sobre a qual a operação é aplicada, temos: F = ( U + × W ) = ( U ) = 2 ( 1 4 π D ( r ) | r r | d τ ) {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {F} =\nabla \cdot \left(-\nabla U+\nabla \times \mathbf {W} \right)=\nabla \cdot \left(-\nabla U\right)=\nabla ^{2}\left({\frac {-1}{4\pi }}\int {\frac {D(\mathbf {r'} )}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}{d}\tau '\right)}

Como 2 {\displaystyle \nabla ^{2}} é um operador diferencial em relação a r {\displaystyle \mathbf {r} } e a integral é em relação a r {\displaystyle \mathbf {r'} } , podemos fazer

F = 1 4 π D ( r ) 2 ( 1 | r r | ) d τ = 1 4 π D ( r ) ( 4 π δ 3 ( r r ) ) d τ = D ( r ) δ 3 ( r r ) d τ = D ( r ) , {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {F} ={\frac {-1}{4\pi }}\int D(\mathbf {r'} )\nabla ^{2}\left({\frac {1}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}\right){d}\tau '={\frac {-1}{4\pi }}\int D(\mathbf {r'} )\left(-4\pi \delta ^{3}(\mathbf {r} -\mathbf {r'} )\right){d}\tau '=\int D(\mathbf {r'} )\delta ^{3}(\mathbf {r} -\mathbf {r'} ){d}\tau '=D(\mathbf {r} ),}

onde usamos a conhecida propriedade[3] da função Delta de Dirac:

f ( r ) δ 3 ( r a ) d τ = f ( a ) {\displaystyle \int \mathbf {f} (\mathbf {r'} )\delta ^{3}(\mathbf {r'} -\mathbf {a} ){d}\tau '=\mathbf {f} (\mathbf {a} )}

Logo, como queríamos demonstrar, F = D ( r ) {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {F} =D(\mathbf {r} )}

Rotacional de F(r)

Uma vez que o rotacional de um gradiente é identicamente nulo[2], qualquer que seja a função sobre a qual o operador atua, e usando a identidade × ( × ) = 2 + ( ) {\displaystyle \nabla \times (\nabla \times )=-\nabla ^{2}+\nabla (\nabla \cdot )} [2], temos:

× F = × ( U ( r ) + × W ( r ) ) = × ( × W ) = 2 W + ( W ) {\displaystyle \nabla \times \mathbf {F} =\nabla \times \left(-\nabla U(\mathbf {r} )+\nabla \times \mathbf {W} (\mathbf {r} )\right)=\nabla \times \left(\nabla \times \mathbf {W} \right)=-\nabla ^{2}\mathbf {W} +\nabla (\nabla \cdot \mathbf {W} )}

Como 2 {\displaystyle \nabla ^{2}} é um operador diferencial em relação a r {\displaystyle \mathbf {r} } e a integral é em relação a r {\displaystyle \mathbf {r'} } , o primeiro termo do lado direito da equação acima fica:

2 W = 2 ( 1 4 π C ( r ) | r r | d τ ) = 1 4 π C ( r ) 2 ( 1 | r r | ) d τ = 1 4 π C ( r ) ( 4 π δ 3 ( r r ) ) d τ {\displaystyle -\nabla ^{2}\mathbf {W} =-\nabla ^{2}\left({\frac {1}{4\pi }}\int {\frac {\mathbf {C} (\mathbf {r'} )}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}{d}\tau '\right)={\frac {-1}{4\pi }}\int \mathbf {C} (\mathbf {r'} )\nabla ^{2}\left({\frac {1}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}\right){d}\tau '={\frac {-1}{4\pi }}\int \mathbf {C} (\mathbf {r'} )\left(-4\pi \delta ^{3}(\mathbf {r} -\mathbf {r'} )\right){d}\tau '}
= C ( r ) δ 3 ( r r ) d τ = C ( r ) {\displaystyle =\int \mathbf {C} (\mathbf {r'} )\delta ^{3}(\mathbf {r} -\mathbf {r'} ){d}\tau '=\mathbf {C} (\mathbf {r} )}

Para calcular o segundo termo vamos usar, adicionalmente, integração por partes de campos vetoriais e o fato de que uma derivada de 1 | r r | {\displaystyle {\frac {1}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}} em relação a r {\displaystyle \mathbf {r} } difere de uma derivada em relação a r {\displaystyle \mathbf {r'} } por um fator ( 1 ) {\displaystyle (-1)} :

W = ( 1 4 π C ( r ) | r r | d τ ) = 1 4 π C ( r ) ( 1 | r r | ) d τ = 1 4 π V C ( r ) ( 1 | r r | ) d τ {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {W} =\nabla \cdot \left({\frac {1}{4\pi }}\int {\frac {\mathbf {C} (\mathbf {r'} )}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}{d}\tau '\right)={\frac {1}{4\pi }}\int \mathbf {C} (\mathbf {r'} )\nabla \cdot \left({\frac {1}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}\right){d}\tau '={\frac {-1}{4\pi }}\int _{V}\mathbf {C} (\mathbf {r'} )\nabla '\cdot \left({\frac {1}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}\right){d}\tau '}
= 1 4 π [ V 1 | r r | C ( r ) d τ S 1 | r r | C ( r ) d a ] {\displaystyle ={\frac {1}{4\pi }}\left[\int _{V}{\frac {1}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}\nabla '\cdot \mathbf {C} (\mathbf {r'} ){d}\tau '-\oint _{S}{\frac {1}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}\mathbf {C} (\mathbf {r'} )\cdot {d}\mathbf {a} \right]}

Mas, como o divergente de um rotacional é identicamente nulo, C ( r ) = 0 {\displaystyle \nabla '\cdot \mathbf {C} (\mathbf {r'} )=0} . Ao mesmo tempo, se escolhermos uma superfície cujos pontos estão todos suficientemente longe da origem, i.e., se fizermos r {\displaystyle r'\rightarrow \infty } na integral de superfície da equação acima, teremos

1 | r r | C ( r ) d a C ( r ) r r 2 d r = C ( r ) r d r {\displaystyle \oint {\frac {1}{|\mathbf {r} -\mathbf {r'} |}}\mathbf {C} (\mathbf {r'} )\cdot {d}\mathbf {a} \rightarrow \oint {\frac {C(r')}{r'}}r'^{2}{d}r'=\oint C(r')r'{d}r'}

Como as condições ( 1 ) {\displaystyle \left(1\right)} garantem que C ( r ) {\displaystyle C(r')} vai a zero mais rápido que 1 / r 2 {\displaystyle 1/r'^{2}} , o integrando, que é constante ao longo da integração se escolhermos como superfície de integração uma esfera, vai a zero. Logo, a integral de superfície também vai a zero, o que dá

W = 0 {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {W} =0}

Assim, ficamos com × F = C ( r ) {\displaystyle \nabla \times \mathbf {F} =\mathbf {C} (\mathbf {r} )} , como queríamos demonstrar.

Unicidade de F(r)

Até agora demonstramos que é possível escrever F ( r ) {\displaystyle \mathbf {F} (\mathbf {r} )} como o rotacional de um campo vetorial menos o gradiente de um campo escalar, como na expressão ( 3 ) {\displaystyle \left(3\right)} . Mas será que essa é a única forma de escrever F {\displaystyle \mathbf {F} } ? Em outras palavras, uma vez determinados o rotacional e o divergente de um campo vetorial F {\displaystyle \mathbf {F} } , ele está unicamente fixado por ( 3 ) {\displaystyle \left(3\right)} ? A princípio, poderíamos adicionar à F {\displaystyle \mathbf {F} } um função cujo rotacional e divergente fossem identicamente nulos. Nada mudaria no que foi argumentado até agora, mas certamente F {\displaystyle \mathbf {F} } não seria único. Haveria tantas expressões diferentes para F {\displaystyle \mathbf {F} } quanto campos com rotacional e divergente nulo existissem. De fato, existem campos com rotacional e divergente nulo, mas nenhum deles consegue satisfazer a condição ( 2 ) {\displaystyle \left(2\right)} :

lim r F ( r ) 1 / r = 0 {\displaystyle \lim _{r\to \infty }{\frac {\mathbf {F} (\mathbf {r} )}{1/r}}=\mathbf {0} } .

Ou seja, nenhum campo irrotacional e sem divergência vai a zero no infinito mais rápido que r {\displaystyle r} [4].

Uma estratégia para mostrar formalmente a unicidade de F ( r ) {\displaystyle \mathbf {F} (\mathbf {r} )} é supor que exista uma outra função F 2 ( r ) {\displaystyle \mathbf {F_{2}} (\mathbf {r} )} , com o mesmo divergente e rotacional de F ( r ) {\displaystyle \mathbf {F} (\mathbf {r} )} , e mostrar que B = F F 2 = 0 . {\displaystyle \mathbf {B} =\mathbf {F} -\mathbf {F_{2}} =\mathbf {0} .}

Temos, então: × F 2 = C ( r ) {\displaystyle \nabla \times \mathbf {F_{2}} =\mathbf {C} (\mathbf {r} )} e F 2 = D ( r ) . {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {F_{2}} =D(\mathbf {r} ).} Logo,

B = ( F F 2 ) = D D = 0 {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {B} =\nabla \cdot (\mathbf {F} -\mathbf {F_{2}} )=D-D=0} .

Da mesma maneira,

× B = 0 {\displaystyle \nabla \times \mathbf {B} =\mathbf {0} }

Pela última equação podemos definir B = ϕ {\displaystyle \mathbf {B} =-\nabla \phi } e, substituindo na penúltima, B = ϕ = 0 {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {B} =-\nabla \cdot \nabla \phi =0}

Para duas funções escalares u {\displaystyle u} e v {\displaystyle v} diferenciáveis, há a identidade ( u v ) = u v + ( u ) ( v ) {\displaystyle \nabla \cdot (u\nabla v)=u\nabla \cdot \nabla v+(\nabla u)\cdot (\nabla v)} . Utilizando-a no teorema da divergência, obtemos:

V u ( v ) d τ + V ( u ) ( v ) d τ = V ( u v ) d τ = S ( u v ) d a {\displaystyle \int _{V}u\nabla \cdot (\nabla v){d}\tau +\int _{V}(\nabla u)\cdot (\nabla v){d}\tau =\int _{V}\nabla \cdot (u\nabla v){d}\tau =\oint _{S}(u\nabla v)\cdot {d}\mathbf {a} }

Se fizermos u = v = ϕ {\displaystyle u=v=\phi } , ficamos com

V ϕ ( ϕ ) d τ + V ( ϕ ) ( ϕ ) d τ = S ( ϕ ϕ ) d a {\displaystyle \int _{V}\phi \nabla \cdot (\nabla \phi ){d}\tau +\int _{V}(\nabla \phi )\cdot (\nabla \phi ){d}\tau =\oint _{S}(\phi \nabla \phi )\cdot {d}\mathbf {a} }

A primeira integral é nula, pois ϕ = 0. {\displaystyle \nabla \cdot \nabla \phi =0.} A integral de área, lado direito da equação, é nula pelas condições ( 1 ) {\displaystyle \left(1\right)} . Logo, resta:

V ( ϕ ) ( ϕ ) d τ = 0 {\displaystyle \int _{V}(\nabla \phi )\cdot (\nabla \phi ){d}\tau =0} .

Como a igualdade vale qualquer que seja o volume V {\displaystyle V} escolhido, e o produto ( ϕ ) ( ϕ ) = B B = B 2 {\displaystyle (\nabla \phi )\cdot (\nabla \phi )=\mathbf {B} \cdot \mathbf {B} =B^{2}} nunca é negativo, concluímos que B = 0 . {\displaystyle \mathbf {B} =\mathbf {0} .} Desse modo, como queríamos demonstrar:

B = F F 2 = 0 . {\displaystyle \mathbf {B} =\mathbf {F} -\mathbf {F_{2}} =\mathbf {0} .}

E fica provado que, uma vez determinado o rotacional e o divergente de um campo vetorial F {\displaystyle \mathbf {F} } , e sob as condições ( 1 ) {\displaystyle \left(1\right)} e ( 2 ) {\displaystyle \left(2\right)} , este existe e é dado pela expressão ( 3 ) {\displaystyle \left(3\right)} de forma única.[5]

Funções potenciais[4]

O conceito de potencial é útil em muitas situações, em física[6]. O Teorema de Helmholtz tem alguns corolários extremamente importantes.

Campos vetoriais irrotacionais

Se × F = 0 {\displaystyle \nabla \times \mathbf {F} =0} em todo o espaço, e sabendo que o rotacional do gradiente é identicamente nulo, temos:

× ( U ( r ) + × W ) = × × W = 0 W = 0 {\displaystyle \nabla \times \left(-\nabla U(\mathbf {r} )+\nabla \times \mathbf {W} \right)=\nabla \times \nabla \times \mathbf {W} =0\Rightarrow \mathbf {W} =0}

Logo, o campo vetorial em questão pode ser escrito apenas como o gradiente de um campo escalar: F = φ ( r ) . {\displaystyle \mathbf {F} =-\nabla \varphi (\mathbf {r} ).}

Chamamos a função escalar φ ( r ) {\displaystyle \varphi (\mathbf {r} )} de potencial escalar.

Pelo teorema de Stokes, S × F d a = C F d l = 0. {\displaystyle \int _{S}\nabla \times \mathbf {F} \cdot {d}\mathbf {a} =\oint _{C}\mathbf {F} \cdot {d}\mathbf {l} =0.} Logo, uma integral de linha de um campo irrotacional num circuito fechado é identicamente nula. Isso implica qualquer integral de linha que comece e termine no mesmo ponto ser independente do caminho, pois se uma integral começa em a {\displaystyle \mathbf {a} } e termina em b {\displaystyle \mathbf {b} } , e uma outra integral começa em b {\displaystyle \mathbf {b} } e termina em a {\displaystyle \mathbf {a} } , a soma das duas dá uma integral de linha num caminho fechado, que é identicamente nula. Logo:

a c 1 b F d l + b c 2 a F d l = a c 1 b F d l a c 2 b F d l = 0 a c 1 b F d l = b c 2 a F d l {\displaystyle \int _{\mathbf {a\rightarrow c1} }^{\mathbf {b} }\mathbf {F} \cdot {d}\mathbf {l} +\int _{\mathbf {b\rightarrow c2} }^{\mathbf {a} }\mathbf {F} \cdot {d}\mathbf {l} =\int _{\mathbf {a\rightarrow c1} }^{\mathbf {b} }\mathbf {F} \cdot {d}\mathbf {l} -\int _{\mathbf {a\rightarrow c2} }^{\mathbf {b} }\mathbf {F} \cdot {d}\mathbf {l} =0\Rightarrow \int _{\mathbf {a\rightarrow c1} }^{\mathbf {b} }\mathbf {F} \cdot {d}\mathbf {l} =\int _{\mathbf {b\rightarrow c2} }^{\mathbf {a} }\mathbf {F} \cdot {d}\mathbf {l} }

Ou seja, a integral de linha é independente do caminho.

Campos vetoriais sem divergência

Se F = 0 {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {F} =0} em todo o espaço, e sabendo que o divergente do rotacional é identicamente nulo, temos:

( U + × W ) = ( U ) = 0 U = 0 {\displaystyle \nabla \cdot \left(-\nabla U+\nabla \times \mathbf {W} \right)=-\nabla \cdot \left(\nabla U\right)=0\Rightarrow \nabla U=0}

Logo, o campo vetorial em questão pode ser escrito apenas como o rotacional de um campo vetorial: F = × A ( r ) {\displaystyle \mathbf {F} =\nabla \times \mathbf {A} (\mathbf {r} )} .

Chamamos a função vetorial A ( r ) {\displaystyle \mathbf {A} (\mathbf {r} )} de potencial vetor.

Pelo teorema da divergência, V F d τ = S F d a = 0. {\displaystyle \int _{V}\nabla \cdot \mathbf {F} {d}\tau '=\oint _{S}\mathbf {F} \cdot {d}\mathbf {a} =0.} Logo, no fluxo de um campo sem divergência numa superfície fechada é identicamente nulo.

Podemos mostrar, também, que qualquer integral de superfície, cuja superfície de integração esteja apoiada num mesmo contorno C, tem o mesmo valor. Ou seja, uma integral de superfície de um campo sem divergência não depende da superfície, para um dado contorno de apoio.

Aplicação em eletromagnetismo

A informação de que um campo vetorial está unicamente fixado pelo seu divergente e rotacional é de fundamental importância para a teoria eletromagnética. Toda a informação física relevante dos fenômenos eletromagnéticos é tirada de quatro equações diferenciais, as Equações de Maxwell, que envolvem precisamente o divergente e o rotacional dos campos vetoriais elétrico e magnético. São elas:

E = ρ ϵ 0 {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {E} ={\frac {\rho }{\epsilon _{0}}}} (Lei de Gauss)


× E = B t {\displaystyle \nabla \times \mathbf {E} =-{\frac {\partial \mathbf {B} }{\partial t}}} (Lei de Faraday-Neumann-Lenz)


B = 0 {\displaystyle \nabla \cdot \mathbf {B} =0} (Ausência de monopolos magnéticos)


× B = μ 0 J + μ 0 ε 0 E t   {\displaystyle \nabla \times \mathbf {B} =\mu _{0}\mathbf {J} +\mu _{0}\varepsilon _{0}{\frac {\partial \mathbf {E} }{\partial t}}\ } (Lei de Ampère)

Além disso, o conceito desenvolvido acima de potencial escalar e potencial vetor simplifica a solução de muitos problemas físicos.[4]

Ligações externas

  • Teorema de Helmholtz em WolframMathWorld (em inglês).
  • Teorema de Helmholtz em Utexas (em inglês).

Referências

  1. Cahan, D., Hermann von Helmholtz and the Foundations of Nineteenth-Century Science, 1a ed. California: University of California Press (1993).
  2. a b c Davis, H. F. e Snider, A. D., Introduction to Vector Analysis, 7a ed. Boston: Allyn & Bacon (1995).
  3. Boas, M.L., Mathematical Methods in the Physical Sciences, 3a ed. Hoboken: Wiley (2005).
  4. a b c Griffiths, D. J., Introduction to Electrodynamics, 3a ed. New Jersey: Benjamin Cummings (1999).
  5. Arfken, G. B., Weber H. J. e Harris F. E., Mathematical Methods for Physicists, 6a ed. California: Academic Press (2005).
  6. Marion, J.B. e Thornton, S.T., Classical Dynamics of Particles and Systems, 5a ed. California: Brooks Cole (2003).


  • v
  • d
  • e
Teoremas matemáticos fundamentais